sábado, 28 de maio de 2016

MEMÓRIA


Matéria veiculada em agosto de 2010, pelo "Jornal da Cultura de Ceará-Mirim", um periódico que tinha circulação virtual, editado pelo hoje patrono da ACLA, o escritor PEDRO SIMÕES NETO.

NÃO TEM FUTURO QUEM NÃO CUIDA DO SEU PASSADO

O descaso e a insensatez dos poderes públicos destroem o passado de Ceará-Mirim e ameaçam prejudicar o seu futuro. Este belíssimo prédio, imponente, senhorial, matriz de uma época de fausto e de bom gosto arquitetônico de Ceará-Mirim, era a casa grande do Engenho Cruzeiro, de propriedade da família de Onofre José Soares, o mesmo que construiu o prédio do Mercado Público de Ceará-Mirim.

Não temos razões para atribuir responsabilidade aos seus herdeiros por sua irreversível decadência, pelo estado ruinoso em que se converteu esta maravilha, como demonstra a outra foto. Porque não quiseram ou porque não puderam conservar essa relíquia preciosa, ou restaurá-la, é questão de foro íntimo da família, que, na condição de proprietária do prédio poderia dar a ele o destino que lhe aprouvesse.

A nossa questão se volta contra as políticas públicas nos diversos níveis de governo, que se omitiram da obrigação de preservação do patrimônio cultural do município. Do acervo que hoje traria para a nossa cidade, emprego e renda, através do turismo cultural, além do fluxo de recursos que adviria a reboque do tombamento dos próprios reservados ao acervo do patrimônio histórico e artístico, porque representativo de uma época que se perdeu na voragem dos tempos, mas indispensável como vetor para a orientação das pesquisas e investigações arquitetônicas e históricas.

Quem sabe, hoje a economia municipal não estaria recebendo injeções de recursos recolhidos das atividades de apoio ao turismo cultural e suas múltiplas atividades indiretas. Sabe-se que há uma nostálgica “rota dos engenhos” que amostra a decadência física e econômica do município, coisa à base do “éramos assim, hoje estamos assim” ... reduzidos à miséria, como se conclui na eloqüência dessas duas fotos, que, comparadas, comprovam apenas o descaso, a insensatez e a falta sensibilidade e de gestão dos nossos governantes. 
Guardadas as proporções, a tal “rota” que exibe a falência econômica e cultural da cidade, é uma questão de opção mal orientada. É como o administrador que preferisse mostrar as crianças subnutridas para atestar a miséria da sua terra, ao invés de exibir as beneficiadas por um programa de nutrição que desenvolveu para combater a miséria.

Por que não elaborar um plano diretor de cultura, com um segmento de “memória”, negociável com as demais esferas de poder e com a iniciativa privada (olha a PPP, minha gente!), para restaurar, preservar, manter e promover o rico acervo do município? Afinal, no tempo em que as ações desenvolvimentistas eram desenvolvidas conscientemente, havia um fator determinante para o incremento das iniciativas de fomento setoriais chamado “vocação”, isto é, a inclinação, a orientação natural da comunidade para determinado setor.

Uma das vocações proeminentes de Ceará-Mirim é a Educação e a Cultura. Somos celeiros de inteligências que nos honraram no passado e têm estado presentes contemporaneamente. A juventude tem ânsias de conhecimento. A sociedade tem orgulho do seu passado histórico e cultural... O que está faltando?

E é preciso acabar com esse equívoco segundo o qual o poder público não pode ter ingerência na iniciativa privada. Onde se foi buscar essa “pérola” do desconhecimento da gestão pública esse “mimo” da cavilação política? Se é assim, como foi possível restaurar e tombar como patrimônio público, o Palacete Antunes e a Casa Grande do Guaporé? Pelo visto nos exemplos, trata-se apenas de decisão política. E de prioridade no estabelecimento das metas para o programa administrativo do governo.

O que poderemos fazer para que o nosso município, ameaçado pelo declínio de sua principal fonte de economia – a agroindústria canavieira – e perdendo outra de suas mais importantes perspectivas de fortalecimento de renda – o turismo – à falta de alternativas, não se transforme em cidade-dormitório e na terra do “já foi”? 

Pedro Simões
Acla Pedro Simões Neto - Facebook



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