terça-feira, 2 de julho de 2013

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Artista potiguar expõe hoje performance Toda Arte Agora é Merda, na Áustria

Há oito anos artista plástico potiguar viaja o mundo com a performance Toda Merda Agora é Arte, com quatro bienais em Veneza
Por Sergio Vilar 
 
A arte plástica potiguar tem história de vanguarda. Seja nos movimentos estéticos, seja no pioneirismo de novas formas e descobertas artísticas, com a arte cinética de Abraham Palatnik ou na telafotografia de Zaíra Caldas. Nos últimos anos, um cearamirinense tem provocado curadores e admiradores da arte contemporânea pelas bienais mundo afora. Fábio Di Ojuara tem desafiado a nova ordem artística e resgatado um velho jargão introduzido na primeira metade do século passado pelo francês Marcel Duchamp, quando ironizou a qualidade do labor artístico produzido na época.

Fábio di Ojuara em performance na 55ª Bienal de Veneza, no último 29 de maio (Foto: REUTERS/Stefano Rellandini) 
 
Fábio integra o grupo dos mail artist: artistas da Arte Postal potiguar. Entrou por intermédio dos artistas Carlos Jucá (por onde anda?) e Falves Silva. O Arte Postal é um movimento internacional de intercâmbio artístico e cultural. Dentro desse movimento, Fábio lidera o “Now, every shit is art” (“toda merda agora é arte”). É um movimento provocante que tem conquistado a simpatia do mundo inteiro; um movimento até intrigante pela conotação dúbia, levando o sujeito a reflexões paradoxais em detrimento à ignorância artística.
E essa ignorância percorre as principais bienais do mundo. E Fábio está lá: França, Itália, Eslovênia, Croácia, Holanda, China, Estados Unidos, Alemanha… Só na concorrida Bienal de Veneza foram quatro participações com a performance ‘Now, every shit is art”. Já foram quase 100 exposições. Se contar com o trabalho de mail artist, ultrapassa as 200. Hoje, o potiguar expõe na cidade de Spittal und Drau, na Áustria, por ocasião do aniversário da cidade, com presença de autoridades do país e artistas do mundo inteiro.
Bradando e conquistando o mundo com o lema provocativo, Fábio di Ojuara parece mais contemporâneo do que nunca: “O jargão ‘toda merda agora é arte’ possibilita ao artista maior liberdade com o fazer artístico. Pode-se entender que toda arte agora é merda, o que seria degenerativo às artes. Etimologicamente falando, Arte provém do verbo latínico ‘fazer’ e ‘feito’, o que significa que estamos no dilema: merda feita e o fazer merda. E no mundo globalizado de hoje a merda já está feita e a onda agora é tirar proveito disso”, comenta o oportuno artista.
Mas se a merda está feita, é válido engrossar o coro ou buscar a quebra do paradigma? Não, o cearamirinense não é oportunista, não se vale da merda do mundo: “Podemos reciclar o lixo produzido pela sociedade mundial; o lixo no sentido generalizado: o excremento social, a merda que a sociedade faz, o que se joga fora. Nesse sentido, lixo e merda se fundem em matéria prima para o fazer artístico. É função do artista trabalhar nesta coleta. Reciclar é limpar a merda feita, o que é de fato um ponto de difícil assimilação”.
A merda vem de antes
O artista italiano Piero Manzoni, nos anos 60’s, embalava 30 gramas de merda em cada latinha, intitulava “merda do artista”, assinava e enviava pelos correios às pessoas. Esse fazer do Manzoni causa intriga até hoje. Não para Fábio di Ojuara, que fez e faz escola de excrementalismo com os dadaístas Tristan Tzara, Bretton, Duchamp e concluiu o mestrado quando Andy Warhol afirmou que “no futuro todos teriam seus 15 minutos de fama”. “Nas entrelinhas, Warhol disse, categoricamente, que no futuro muita merda iria rolar”.
Para Fábio, no presente mundo globalizado, o “vale tudo” da arte é movido pela especulação monetária a ponto de confundir o expectador: será arte ou merda mesmo? “Verdade é que o globo encontra-se em crise de lixo. Países como Japão, Índia, China, EUA, Brasil, Rússia, França e Inglaterra, com o consumismo desenfreado estão de pinico cheio. Isso reflete no artista, no caos e em uma complexidade produtiva. Mas, como já foi dito: é do artista a função de coletar, reciclar, limpar; transformar toda essa merda em arte de forma protestante com humor e beleza”.

Quem é Fábio di Ojuara?
Artista é notícia na mídia por onde passa (Foto: reprodução) 
 
Quando criança Fábio já fazia grafites eróticos e provocantes pelas calçadas e paredes de Natal. Vem daí sua formação artística. No final dos anos 70 foi morar no Recife onde fez escola de arte no Vivencial Diverciones – um espaço cultural contemporâneo em Olinda, dirigido pelo sociólogo Guilherme Coelho e frequentado pela mais importante camada artística do Recife: Paulo Bruscky, Jomar Muniz, Daniel Santiago, João Câmara, Abelardo da Hora, Delano, Macira, Dom Troncho, Tito Livio, Lula Cortes, Bráulio Tavares e outros mais. Todos faziam uma revolução cultural de época.
No final dos anos 80 retorna a Natal e se junta ao Nucleart, formado por um grupo de artistas contemporâneos: J. Medeiros, Novenil Barros, Marcelus Bob e Cristina Jacomé. Foi seu ingresso nas artes potiguares com provocantes esculturas em sucata de ferro e pinturas com temas polêmicos. Já no século 21 teve a sorte de ter uma escultura sua vista na internet pelo produtor austríaco Reinhard Schell, casado com uma brasileira que conhecia Fábio. Gostou da produção e o levou à Áustria. Desde 2007, Fábio divide o ano entre a Áustria (de onde espalha sua obra confeccionada em alumínio fundido pela Europa) e Natal.
E hoje, quem é Fábio di Ojuara à luz de Duchamp? “Ferreira Gullar escreveu um livro que se chama ‘Argumentação contra a morte da arte’, onde ele faz provocações, alegando que ‘a arte está ameaçada de morte pela falsidade e pela tolice dos jogos de marketing (a globalização)’. Aí ele afirma que o culpado é Marcel Duchamp. Tudo bem. Vindo de Ferreira Gullar pode ser delírio artístico. Mas eu, Fábio Di Ojuara, sou ‘toda merda agora é arte’, e espero isentar Duchamp dessa máxima culpa”.

Um comentário:

  1. muito boa essa materia meu caro Adriano, parabéns aí, essa matéria é exatamente o espelho de Fabio Di Ojuara, através dessa matéria o expectador pode entender o artista a sua producao e seu papel na politica cultural e artistica...vou indicar essa materia como referencia para pesquisas sobre o artista fabio di ojuara.
    valeu galera!

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