Artista potiguar expõe hoje performance Toda Arte Agora é Merda, na Áustria
Há oito anos artista plástico potiguar viaja o mundo com a performance Toda Merda Agora é Arte, com quatro bienais em Veneza
Por Sergio Vilar
A arte plástica potiguar tem história de vanguarda. Seja nos
movimentos estéticos, seja no pioneirismo de novas formas e descobertas
artísticas, com a arte cinética de Abraham Palatnik ou na telafotografia
de Zaíra Caldas. Nos últimos anos, um cearamirinense tem provocado
curadores e admiradores da arte contemporânea pelas bienais mundo afora.
Fábio Di Ojuara tem desafiado a nova ordem artística e resgatado um
velho jargão introduzido na primeira metade do século passado pelo
francês Marcel Duchamp, quando ironizou a qualidade do labor artístico
produzido na época.
Fábio integra o grupo dos mail artist: artistas da Arte Postal potiguar.
Entrou por intermédio dos artistas Carlos Jucá (por onde anda?) e
Falves Silva. O Arte Postal é um movimento internacional de intercâmbio
artístico e cultural. Dentro desse movimento, Fábio lidera o “Now, every
shit is art” (“toda merda agora é arte”). É um movimento provocante que
tem conquistado a simpatia do mundo inteiro; um movimento até
intrigante pela conotação dúbia, levando o sujeito a reflexões
paradoxais em detrimento à ignorância artística.
E essa ignorância percorre as principais bienais do mundo. E Fábio
está lá: França, Itália, Eslovênia, Croácia, Holanda, China, Estados
Unidos, Alemanha… Só na concorrida Bienal de Veneza foram quatro
participações com a performance ‘Now, every shit is art”. Já foram quase
100 exposições. Se contar com o trabalho de mail artist, ultrapassa as
200. Hoje, o potiguar expõe na cidade de Spittal und Drau, na Áustria,
por ocasião do aniversário da cidade, com presença de autoridades do
país e artistas do mundo inteiro.
Bradando e conquistando o mundo com o lema provocativo, Fábio di
Ojuara parece mais contemporâneo do que nunca: “O jargão ‘toda merda
agora é arte’ possibilita ao artista maior liberdade
com o fazer artístico. Pode-se entender que toda arte agora é merda, o
que seria degenerativo às artes. Etimologicamente falando, Arte provém
do verbo latínico ‘fazer’ e ‘feito’, o que significa que estamos no dilema: merda feita e o fazer merda. E no mundo globalizado de hoje a merda já está feita e a onda agora é tirar proveito disso”, comenta o oportuno artista.
Mas se a merda está feita, é válido engrossar o coro ou buscar a
quebra do paradigma? Não, o cearamirinense não é oportunista, não se
vale da merda do mundo: “Podemos reciclar o lixo produzido pela
sociedade mundial; o lixo no sentido generalizado: o excremento social, a
merda que a sociedade faz, o que se joga fora. Nesse sentido, lixo e
merda se fundem em matéria prima para o fazer artístico. É função do
artista trabalhar nesta coleta. Reciclar é limpar a merda feita, o que é de fato um ponto de difícil assimilação”.
A merda vem de antes
O artista italiano Piero Manzoni, nos anos 60’s, embalava 30 gramas
de merda em cada latinha, intitulava “merda do artista”, assinava e
enviava pelos correios às pessoas. Esse fazer do Manzoni causa intriga
até hoje. Não para Fábio di Ojuara, que fez e faz escola de
excrementalismo com os dadaístas Tristan Tzara, Bretton, Duchamp e
concluiu o mestrado quando Andy Warhol afirmou que “no futuro todos
teriam seus 15 minutos de fama”. “Nas entrelinhas, Warhol disse,
categoricamente, que no futuro muita merda iria rolar”.
Para Fábio, no presente mundo globalizado, o “vale tudo” da arte é
movido pela especulação monetária a ponto de confundir o expectador:
será arte ou merda mesmo? “Verdade é que o globo
encontra-se em crise de lixo. Países como Japão, Índia, China, EUA,
Brasil, Rússia, França e Inglaterra, com o consumismo desenfreado estão
de pinico cheio. Isso reflete no artista, no caos e em uma complexidade
produtiva. Mas, como já foi dito: é do artista a função de coletar,
reciclar, limpar; transformar toda essa merda em arte de forma
protestante com humor e beleza”.
Quem é Fábio di Ojuara?
Quando criança Fábio já fazia grafites eróticos e provocantes pelas
calçadas e paredes de Natal. Vem daí sua formação artística. No final
dos anos 70 foi morar no Recife onde fez escola de arte no Vivencial
Diverciones – um espaço cultural contemporâneo em Olinda, dirigido pelo
sociólogo Guilherme Coelho e frequentado pela mais importante camada
artística do Recife: Paulo Bruscky, Jomar Muniz, Daniel Santiago, João
Câmara, Abelardo da Hora, Delano, Macira, Dom Troncho, Tito Livio, Lula
Cortes, Bráulio Tavares e outros mais. Todos faziam uma revolução
cultural de época.
No final dos anos 80 retorna a Natal e se junta ao Nucleart, formado
por um grupo de artistas contemporâneos: J. Medeiros, Novenil Barros,
Marcelus Bob e Cristina Jacomé. Foi seu ingresso nas artes potiguares
com provocantes esculturas em sucata de ferro e pinturas com temas
polêmicos. Já no século 21 teve a sorte de ter uma escultura sua vista
na internet pelo produtor austríaco Reinhard Schell, casado com uma
brasileira que conhecia Fábio. Gostou da produção e o levou à Áustria.
Desde 2007, Fábio divide o ano entre a Áustria (de onde espalha sua obra
confeccionada em alumínio fundido pela Europa) e Natal.
E hoje, quem é Fábio di Ojuara à luz de Duchamp? “Ferreira Gullar
escreveu um livro que se chama ‘Argumentação contra a morte da arte’,
onde ele faz provocações, alegando que ‘a arte está ameaçada de morte
pela falsidade e pela tolice dos jogos de marketing (a globalização)’.
Aí ele afirma que o culpado é Marcel Duchamp. Tudo bem. Vindo de
Ferreira Gullar pode ser delírio artístico. Mas eu, Fábio Di Ojuara, sou
‘toda merda agora é arte’, e espero isentar Duchamp dessa máxima
culpa”.
muito boa essa materia meu caro Adriano, parabéns aí, essa matéria é exatamente o espelho de Fabio Di Ojuara, através dessa matéria o expectador pode entender o artista a sua producao e seu papel na politica cultural e artistica...vou indicar essa materia como referencia para pesquisas sobre o artista fabio di ojuara.
ResponderExcluirvaleu galera!