terça-feira, 18 de agosto de 2015

LEVANDO O NOME DE CEARÁ-MIRIM

Há oito anos o artista plástico potiguar vive uma intensa movimentação entre Natal e Áustria, com suas esculturas que mostram a natureza ameaçada


A natureza viajante de Fábio di Ojuara



Fábio di Ojuara está em casa (Ceará-Mirim). Por enquanto. Há oito anos o artista plástico potiguar (cearamirinense) vive uma intensa movimentação entre Natal, Recife, e a Áustria, de onde sua arte pode vislumbrar toda a Europa. No momento ele está preparando as malas  - e as obras - para participar de uma exposição em Paris, com temática erótica, em dezembro. É uma rotina que Ojuara já se acostumou a fazer com gosto, principalmente, por sua arte obter um alcance que raramente teria em condições normais. 

“Natal é uma capital muito pobre de galerias de arte. É preciso ir à casa ou ateliê do artista para ver as obras dele. A única arte que pode ser vista facilmente aqui estão nas lojinhas de artesanato”, critica Ojuara. Segundo, os bons escultores e pintores da cidade sofrem com a falta de lugares onde expor seus trabalhos. “É muito diferente de lugares próximos, como João Pessoa e Recife, por exemplo, que tem uma galeria em cada esquina. É uma questão cultural, Natal não tem tradição”, ressalta. 

Fábio di Ojuara é inquieto e gosta de aproveitar as oportunidades. Começou a chamar atenção a partir de 1987, quanto passou a integrar o movimento internacional de arte postal, 'mail art', liderado em Natal por Falves Silva e Jota Medeiros. Foi a primeira vez que seu trabalho ganhou o mundo, chegando ao Japão, Rússia, Estados Unidos, Espanha, Alemanha, Portugal, entre outros lugares. 

A guinada definitiva para o artista veio em 2007, quando foi descoberto pela Associação Áustria/Brasil, dirigida pela jornalista Verônica Schell. “Foram no atelier ver in loco meus trabalhos, eles gostam de conhecer o artista”, comenta. As esculturas feitas em alumínio fundido caíram rapidamente no gosto europeu. A temática trabalhada por Ojuara também ajuda: a fauna e a flora nordestinas, ganhando formatos de cajus, mangas, bananas, peixes, caranguejos, camarões, etc. Atualmente ele tem um cavalo-marinho de 2 metros adornando o parque de uma cidade austríaca. 

A temporada de Ojuara na Áustria é realizada de quatro em quatro meses. Lá ele estabeleceu uma parceria com o escultor Reinhard Schell, produzindo juntos na mesma oficina (com uma fundição), e traçando a rota de exposições pela Europa.

Tudo agora é arte

Ojuara afirma que sua temática  é naturalmente bem recebida na Europa. “Eu sempre fui um artista preocupado com a natureza, tenho sangue de índio. Sofro em ver a natureza sendo degradada, então minhas obras são um comentário sobre isso”, explica. Outra coisa que ele contesta, é a própria definição do que é arte. Em 2004 Ojuara criou a performance “Toda merda agora é arte”, uma crítica aos “devaneios” discutíveis de alguns artistas e às panelinhas da área que elegem suas prioridades – nem sempre por critérios artísticos. 

O slogan ácido foi transformado num cartão postal que correu o mundo, e logo o próprio Ojuara incorporou sua crítica, vestindo fralda e uma tampa de vaso sanitário. A performance “Now every shit is art” foi exibida cinco vezes na Bienal de Veneza, e neste ano também em Berlim. “Na verdade até hoje não chegaram a um conceito fechado de arte, mas eu fiz pra discutir mesmo”, diz. 

A jornalista Virgínia Coeli está editando um documentário sobre Fábio do Ojuara na Europa, que irá ao ar ainda em outubro deste ano, através da TV Câmara.  


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