quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

SÓ LEMBRANÇAS: perfis cearamirinenses.

LUIZ DE JÚLIA

O transeunte que passa em frente ao número 112 da Travessa Bom Jesus não imagina que aquele velhinho sentado no sofá da sala da frente daquela casinha de esquina foi um grande animador cultural e esportivo de Ceará-Mirim.
Aos noventa e dois anos, tendo nascido (07/07/1922) cinco meses depois da Semana de Arte Moderna, mas em plena efervescência do movimento modernista brasileiro, que teve no cearamirinense Jayme Adour da Câmara um dos seus expoentes, ele até tem uma boa saúde, considerados seu histórico de vida e sua idade, posto que não toma medicamento de uso contínuo. O problema dele é só a vista – diz uma filha temperando o almoço.
Do pai, Rodolfo, músico e carpinteiro, ele herdou a vocação artística; da mãe, de prendas domésticas, carrega até hoje o nome pelo qual se tornou conhecido: Luiz de Júlia. 

Luiz de Júlia foi um bom contrabaixo da Banda de Música Municipal, sob a batuta do Maestro Tenente Djalma. Fundou e dirigiu vários blocos carnavalescos, como Asa de Ouro, Sai do Meio Que Eu Quero Passar, O Cação, A Girafa, A Mocidade (só para mocinhas), e ainda promovia A Noite de Maria no Frevo.

Outra iniciativa de Luiz de Júlia no campo da cultura popular de muito sucesso foi o pastoril intitulado Flores do Lírio, uma festa muito concorrida e que marcou época, se apresentando sempre nas noites de quartas, sábados e domingos. 
Luiz Pereira de Morais, seu nome de batismo, tem uma descendência enorme: 23 filhos, 100 netos e 30 bisnetos. Com a primeira mulher, Maria de Lourdes, viveu 10 anos; com a segunda, Niradalva, 55. A segunda era irmã da primeira. É viúvo das duas. A oficina de sapataria de Luiz de Júlia ainda existe. Quem dela toma conta é o filho Bitinha (44), desde que o pai se aposentou. Dos filhos mais conhecidos, Naldo, seguiu a profissão do pai, tem uma oficina de sapataria em Natal; Nega de Luiz de Júlia, faleceu há quatro anos, aos cinquenta e seis.
Como dirigente esportivo, Luiz de Júlia tinha uma dedicação comovente: comprava o material e confecciona as chuteiras dos jogadores do Náutico, que era mais conhecido como o Náutico de Luiz de Júlia do que como Esporte Clube. O Náutico foi campeão várias anos do certame futebolístico municipal, sob a direção abnegada de Luiz de Júlia.

Reconhecendo seu mérito, o Rotary Clube de Ceará-Mirim na minha gestão outorgou-lhe a Comenda Companheiro Inácio Cavalcanti, que ele recebeu ao lado de desembargador, de ex-governador do Rotary, Educador e de representante de veículo de comunicação, também agraciados.
Gosta de receber os amigos para conversar.

Frequentei muito a oficina de Luiz de Júlia para consertar sapatos, botas de montar e chuteiras de futebol. Consta que certa feita uma moça desmaiou dançando num baile do Náutico de Luiz de Júlia.

Desse dia em diante, toda vez que um rapaz estava dançando empolgado demais, seu Luiz batia-lhe com uma varinha no ombro e dizia suavemente “mude de pensamento”. 
Difícil era obedecer.

POR RICARDO SOBRAL



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