quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

ARTIGO


 
 
O acidente de Roberto Carlos
Enviado por Eudes Mamedio




Tudo aconteceu no fatídico dia de São Pedro (29 de junho de 1947), padroeiro da Cidade de Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo, onde Roberto Carlos nasceu. Portanto, era festa na cidade e como toda data comemorativa naquela época, tinha bandas tocando e muita agitação. E, claro, Zunga (apelido de Roberto na infância) não perderia oportunidade de ir prestigiar os festejo.

Roberto Carlos
Fifinha (Eunice Solino) era a melhor amiga do Rei, moravam na mesma rua e costumava ir à escola juntos. Nesse dia, ela foi recrutada por Roberto para ver os desfiles que agitavam a cidade.

Naqueles tempos, Cachoeiro era entrecortado por ferrovias e, portanto, era comum acidentes acontecerem. Lá, próximo ao centro, entre a rua e a linha de ferro, encontrava-se as duas crianças. Enquanto aguardavam um desfile escolar, uma professora temeu pela segurança de Zunga e Fifinha, pois elas não perceberam a aproximação de um trem que se aproximava. Mesmo gritando e sinalizando para as crianças saírem dali, a professora correu e puxou a menina, enquanto um assustado Zunga recuou e tropeçou, caindo na linha férrea – ele estava de costas para a ferrovia. Como não dava mais tempo, a professora tentou avisar o maquinista, mas já era tarde demais. A locomotiva avançou e a perna direita de Roberto Carlos ficou presa debaixo do vagão entre as rodas de metal.

Logo, uma multidão se aglomerava para ver o que aconteceu. Afinal era dia de festa e provavelmente o socorro demoraria – naqueles tempos poucas pessoas tinham automóveis na cidade. Mesmo assim, populares tentaram tirar a perna da criança, o que conseguiram com muito custo. Graças a um rapaz que trabalhava no Banco de Crédito Real, vendo que não dava para esperar a ambulância, ele mesmo estancou a hemorragia com seu paletó de linho branco. Roberto Carlos nunca esqueceu dessa cena e a registrou em uma de suas mais comoventes canções, O Divã: “Relembro bem a festa, o apito/ e na multidão um grito/ o sangue no linho branco…”.

O mesmo rapaz do “linho branco” chamado Renato Spíndola levou Zunga para o hospital (Santa Casa de Misericórdia). Dizem que a festa perdeu a graça naquele dia. Tudo bem, que era comum acidentes, mas geralmente eram bêbados que se acidentavam, nunca até então acontecera com uma criança – o Zunga da Rua da Biquinha.

Roberto Carlos foi atendido pelo médico Romildo Coelho, que se tornara amigo do cantor. O acidente fez com que a perna direita perdesse a sensibilidade, pois fora esmagada arrancando todos os nervos, por isso a criança não chorava muito. Zunga, ao ser atendido, estava muito mais preocupado com os sapatos novos que tinha ganhado para ir à festa do que com a sua perna, a qual ele não tinha noção da gravidade.

Na verdade, Roberto Carlos teve muita sorte, porque era comum nestes casos amputar a perna. Mas o Dr. Romildo era um sujeito moderno e havia lido um artigo médico que dizia que se devia cortar o mínimo possível os membros acidentados. Portanto, apenas entre o terço médio e o superior da canela foi amputado e um pouco abaixo colocaram uma roda de metal, o que impediu Roberto de perder os movimentos do joelho direito. Roberto Carlos passou o resto da infância andando de muleta, e apenas aos 15 anos colocaria a primeira prótese, quando já morava no Rio de Janeiro.



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